segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fizeram valer!

Depois de muito tempo, a Câmara aprovou a lei que o finado Deputado Clodovil Hernandez propôs em 24/04/2007, a respeito da obrigatoriedade da apresentação dos nomes dos dubladores em obras audiovisuais. Não é uma notícia bombástica, mas não é nada mais do que já deveria ter sido feito há muito tempo. Até na internet, um terreno desregrado e de ninguém, alguns sábios usuários creditam determinadas coisas aos que nela trabalharam, e por que só em Dublagem que não era assim?

http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=349223

Se houvesse um bom senso, não precisaria virar lei para só então passar a ser cumprida. Poderiam fazer de modo espontâneo. Mas infelizmente, a palavra bom senso não é usada com frequência no nosso cotidiano. É como um “causo” que o Nelson Machado contou em um dos Papo com o Machado: “Uma vez, conversando com o Sr. Michael Stoll, nos corredores da Álamo, indaguei o por que de nossos nomes não constarem nos créditos de encerramento das obras dubladas, e ele me respondeu sem pensar muito: Simples, por que vocês não pediram!” – plagiando o sotaque do profissional.

Naquela época (o Nelson não mencionou a data) era a realidade, mas é sabido que há anos os dubladores lutam para conseguir um espaço maior dentro do próprio ramo e também em outras mídias, pois todo dublador é ator, mas nem todo ator consegue ser um dublador convincente. Numa dessas circunstâncias da vida, algum empresário do ramo televisivo, por exemplo, pode estar belo e formoso sentado em sua poltrona ultra confortável num fim de semana vendo um filme dublado, e gostar da voz feminina que dublava a Jennifer Aniston. Em outros tempos, ele poderia até pensar: “Puxa que voz bonita, daria uma bela narração para um programa que estou criando” ou “Gostaria de conhecer a atriz dona dessa voz, talvez pudesse participar de uma novela ou seriado”... mas o que acontecia? Acabava o filme e ele nem se dava o trabalho de pensar um pouco mais no assunto, uma vez que seria quase impossível (ou no mínimo muito trabalhoso) descobrir quem era a pessoa que fazia a voz da personagem. A partir de agora, usando o mesmo exemplo, no fim do filme vai aparecer lá “Fulana de Tal”, e com uma rápida busca no Google ou até mesmo no Orkut, as chances são elevadas dele conseguir não só achar a profissional, mas até mesmo contatá-la de imediato. Isso tudo é mais do que merecido a classe. Só quem realmente corre atrás de informações sobre dubladores antigos é que sabe o quão sofrido é pra se descobrir algum nome. Não há registros! Está tudo dentro da cabeça de diretores e dubladores, isto é, os que ainda se lembram de coisas feitas há mais de décadas. E ainda tem aqueles que não gostam de falar no assunto... aqueles que não sabemos como encontrá-los... etc... etc...

A Disney já vinha apresentando o elenco em suas produções faz algum tempo, e agora todas as distribuidoras terão que fazê-lo. Neste instante, começa-se a levantar suposições de como isso será concretizado, se por meio de narração ou como acontece nos créditos convencionais de filmes, apenas por escrito. Já vi algumas aberturas de filmes antigos dublados na Herbert Richers (profissional este que nos deixou no último dia 20), com o narrador clássico falando os nomes dos astros da produção, e achei um pouco estranho. Tá certo que ouvir um brasileiro pronunciando o nome Richard Dean Anderson (Uritchard Din Enderson) é bem diferente de ouvi-lo pronunciar Garcia Junior. Mas acho que a boa e velha tela preta logo após a última cena do filme, com uma fonte de tamanho coerente ascendendo numa velocidade plausível, seria o ideal. Mas antes de todos os créditos da produção! Ninguém merece ficar vendo algumas dezenas de minutos de letras creditando até o 59º Assistente de Produção pra só depois ver alguns segundos contendo os nomes dos dubladores do nosso país. Vamos prestigiar a nossa parte. A Produção inteira já foi feita lá fora. A única coisa que foi preparada em nosso país fica por último? Olha a palavrinha já citada lá em cima, o Bom Senso! E parabéns a classe por mais esta conquista!

p.s.: puxando pela memória, lembro-me vagamente de que em meados dos anos 90, fui ver Os Cavaleiros do Zodíaco – O Filme no cinema, e no final, a Gota Mágica creditou os dubladores. Lembro até que foi por causa disso que descobri que o dublador do Shura de Capricórnio era o Fábio Moura.

2 comentários:

Michel disse...

Uma pena que, algo que já deveria estar sendo realizado por bom senso, tenha que ser feito pela lei. Afinal, estamos falando da história da dublagem brasileira, que não tem memória, pois os estúdios de dublagem, ao contrário do que acontece no Japão, não guardam registro de nada. A questão da ordem é o que menos importa, o importante é os nomes estrem ali, estampados na tela. No Japão, para exibição em TV, os filmes e séries estrangeiros tem o encerramento original editado, colocando-se os créditos aos dubladores e seus respectivos personagens, e não se esquecendo também do nome do tradutor. Nada mais justo! Por falar em narrar o nome dos dubladores, me lembro que no encerramento do anime Vampire Hunter D (1985/Epic Sony), lançado em 1988 pela Everest Vídeo, o Nelson Machado (D) citava o elenco de dublagem. Mas acho que esse foi o único caso.

A grande diferença entre a dublagem brasileira e a japonesa está no fato de que no Japão, os dubladores são tratados como pop-star. Participam de eventos, cantam, e até lançam álbum de fotos. Existem várias revistas especializadas em dublagem. É claro que pouquíssimos vão além do mercado otaku, mas o importante é que este segmento tem a sua valorização. Gostaria muito que no Brasil também fosse assim...

Betarelli, Ivan D. disse...

Vc tem toda razão, Michel. Hoje pode ser que esteja começando a mudar, mas antigamente... era complicado. Tá certo que era tudo mais difícil, não existiam computadores e os recursos eram escassos, infelizmente.

Tive oportunidade de entrar em contato com o Alan Stoll, atual dono da Álamo e com o Mario Lucio de Freitas, o ex-dono da extinta Gota Mágica. Consegui a cópia de uma escala em "off", que era totalmente informal e datilografada. Constam nomes como "Lucinha" (Lucia Helena Azevedo, dubladora da Sara em Flashman) e "Guerra" (Jose Carlos Guerra, dublador do Zampa. Além do que consta apenas o elenco fixo, e nada do variável, aquele que muda de capítulo em capítulo.

Já o Freitas me disse que não guardou nada, e quando criou seu site (http://www.marioluciodefreitas.com.br/), teve que começar a "caçar" material do zero.

Interessante essa informação sobre o Vampire Hunter. Gostaria de ter acesso a esse material.

Infelizmente existe mesmo essa diferença sobre o tratamento dos dubladores em relação ao Japão. Mas isso também está mudando, mas na minha opinião, ainda devagar... só causa "muvuca" quando se trata de Cavaleiros do Zodíaco. A Playarte fez um excelente trabalho com a redublagem da série (acompanhado a risca pelo site CavZodiaco [http://www.cavzodiaco.com.br/]) e também na Saga de Hades - Santuário. Houve entrevistas, perguntas dos fãs aos dubladores e coisas do tipo.

O fato se repetiu agora com o Lost Canvas: O Dublanet ficou movimentado pra caramba quando souberam que o Hermes iria dirigir a dublagem na Dubrasil, e até fez algumas enquetes na internet a respeito da escalação de vozes. Acho isso muito bom, mas não deveria ser apenas em cima de Saint Seiya...

O único que tentou se aventurar nesse mercado foi o Nelson Machado (http://www.tvcapricornio.com.br/telavb.htm), com o programa Versão Brasileira. Chegou longe até, com mais de 20 programas, mas parou por falta de patrocínio. Ele disse recentemente que está fazendo de tudo pra voltar. Estamos torcendo!