quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Hum Ano de Falando de Dublagem!

Dublagem é uma arte fascinante. Imagino que deva ser tão - ou mais - prazeroso pra quem dubla do que é para mim que sou fã. É comum encontrar afirmações dos profissionais mais experientes na internet, por intermédio de entrevistas ou até mesmo por postagem em comunidades do Orkut onde muitos participam ativamente, que o cenário atual difere da realidade de outrora, onde para se gravar uma cena era necessário que vários dubladores dividissem a estante, gravando juntos. Assim, caso houvesse a necessidade, poderiam mudar a entonação de uma frase ou adaptar um termo em conjunto, com autorização do Diretor, resultando num trabalho final mais próximo do original. Hoje, esse processo foi “industrializado”, fazendo com que cada ator grave as falas de seu personagem individualmente, apenas com a presença do Diretor e do Técnico de Áudio, para posterior mixagem. É inegável que o processo fica bem mais dinâmico, mas na opinião de quem realiza o trabalho, do ponto de vista artístico, deixa um pouco a desejar se comparado com o passado.

Para uma pessoa como eu que idolatra principalmente os trabalhos dos dubladores dos anos 80 e 90, não tem como não fechar os olhos e sonhar, enquanto assisto algum capítulo de algum seriado e literalmente enxergar personalidades como Nair Silva, Gilberto Baroli, Antonio Moreno, Carlos Campanile, Alessandra Araujo, Lucia Helena Azevedo, Francisco Brêtas, Christina Rodrigues, dentre outras dezenas de profissionais gabaritados dialogando e dublando dentro de um estúdio as portas fechadas. O legal disso tudo é que os profissionais supracitados continuam firme e fortes no ramo, seja dublando, dirigindo, ou fazendo as duas coisas. Dessa forma, posso almejar um dia conhecê-los pessoalmente e ter a honra de trocar algumas palavras com eles.

Mas ao mesmo tempo, seguindo o exemplo acima, as vezes me pego – enquanto assisto – pensando: “... e quantos profissionais eu jamais vou ter a oportunidade de conhecer, pois já foram para o andar de cima?”. É triste, mas é a realidade. Nomes como Carlos Laranjeira, Ricardo Medrado, Oswaldo Boaretto, Jorge Pires, Mario Vilela, Ézio Ramos, Daoiz Cabezudo, Líbero Miguel, Francisco Borges, João Paulo Ramalho, Baptista Linardi, Renato Master, Nelson Baptista, Marcos Lander, Gastão Malta, Sonia Regina Moreno, Muíbo Cury, Borges de Barros, Helena Samara, José Soares...

... em alguns casos, alguma boa alma disponibilizou ao menos uma foto do saudoso ator na internet, afim de matarmos a curiosidade de como era a pessoa fisicamente. Mas e aí? No âmbito social, a personalidade dessa pessoa ficou restrita apenas aos colegas de profissão e a família. E o reconhecimento do trabalho exemplar feito ao longo de uma carreira vasta na dublagem? Ninguém conheceu. Ou melhor, ninguém reconheceu.

Quem nunca assistiu algum filme (novo ou antigo) e tentou jogar o nome da produção na internet, afim de saber quem fazia a voz bonita do mocinho do filme? Ou a voz sexy da dama? Normalmente, quem tenta essa façanha acaba caindo na Wikipédia, e sua fonte de informações precárias e incertas. Como trata-se de um portal livre, muita gente posta “achismos”, o que na minha opinião fica pior do que se não tivesse informação alguma. Mas como corrigir isso? Difícil. Não costumo visitar muito a página, mas sempre que encontro algum equívoco ou quando tenho alguma informação adicional que possa ser útil, eu acrescento.

E porque toda essa ladainha acima? Simples, por não concordar com o jeito que as coisas funcionam, é que iniciei essa minha pesquisa sobre a arte, tentando levantar o máximo de informações possíveis a respeito de estúdios de dublagem, de produções dubladas, dubladores, diretores, enfim, tudo ligado à arte. E por esse motivo é que vivo enchendo as caixas de entrada de e-mails de vocês, dubladores, além de scraps no Orkut e mensagens no Facebook, com trechos de áudio, perguntas e tudo mais. Meu hobby é pesquisar o trabalho de vocês. Datas, detalhes e outras informações são sempre bem vindas para montar um esboço desse quebra cabeças tão grande que é a história da dublagem. Vale ressaltar que não me interessam assuntos sobre os relacionamentos entre os envolvidos, quem namorou quem, quem brigou com tal pessoa, e coisas do tipo. A vida pessoal de cada um é uma coisa, a carreira esplêndida no trabalho e altamente valorizada por mim é outra. E é nesta segunda que eu costumo focar. Se tem uma coisa que eu posso dizer que está muito claro na minha mente, é que a dublagem é um trabalho, assim como qualquer outro, onde pessoas se desentendem, brigam, festejam, comemoram, e em alguns casos até trapaceiam com os colegas. Então posso dizer que é uma utopia pensar que seja possível existir um ambiente de trabalho na mais perfeita harmonia. E tento manter a coerência quando pergunto alguma coisa que, por algum motivo particular, a pessoa não pode (ou não quer) responder. Aí termina o assunto. Podemos conversar sobre outras coisas, mas não quero ser indelicado com ninguém, e muito menos colocar as pessoas em "saia justa".

Ao mesmo tempo queria deixar bem claro a minha posição em relação a isso tudo, no sentido profissional. Quero que saibam todos, tanto fãs, amigos e profissionais do meio artístico, que JAMAIS almejo (ou pretendi) ser um dublador. Acredito que seja uma profissão dos sonhos, confesso, mas sei das minhas limitações, tanto no âmbito profissional quanto artístico e geográfico. Não tenho um timbre de voz bonito, não sei cantar, interpretar e tampouco dublar. Confesso que nunca tentei, mas acredito que essa qualidade seja um dom, assim como jogar futebol. A pessoa pode melhorar se mantiver hábitos saudáveis e treinamento constante, mas quem nasceu sem o talento (para as artes ou esportes), jamais será diferenciado.

Posso dizer que com apenas 29 anos, tenho minha vida praticamente focada e direcionada no âmbito profissional e pessoal neste momento. Sou formado em Administração de Empresas (2002), já fui bancário e hoje sou Técnico em Informática e Gerente Financeiro de uma média empresa. Moro no interior paulista, à 120 km da capital, sou casado, tenho casa própria e trabalho, assim como a minha esposa, dentro da cidade. Também mantenho a família sempre perto, morando no mesmo município. Não posso dizer que ganho uma fortuna, mas o suficiente pra tocar minha vida dentro dos padrões da denominada “classe média”. E é assim que, pelo menos no presente, quero que as coisas fiquem. Vocês aí fazendo arte, e eu aqui, prestigiando.

Portanto, gostaria que você, dublador, me entendesse quando às vezes, eu “encho um pouco o saco” com mensagens constantes. Tenho tentado não incomodar demais, faço força pra ficar dentro do limite plausível, dou-lhes tempo, procuro não insistir, pois sei que todos vocês tem uma vida pessoal paralela ao trabalho, e nem sempre gostam de tratar de assuntos profissionais durante esse período de descanso. Pode ter certeza que quero somente fazer o melhor para que no futuro, seu trabalho não seja esquecido como o de dubladores das décadas passadas. Eu sou apenas um, mas tem muitos outros fãs (que na minha opinião não se enquadram no significado ao pé da letra do diminutivo de “Fanáticos”) que batalham por vocês. Somos sim, pessoas normais que adoramos a arte que vocês proporcionam, e que por muitos anos permaneceu escondida, além de ter sido muito hostilizada por pessoas que consumiam o seu trabalho (dentro de casa), mas eram os primeiros a negar publicamente porque isso não era coisa de pessoas cultas. Sinto por eles, que não sabem nem ao menos o significado da palavra cultura.

Finalizando, agradeço as visitas constantes, mesmo com poucas atualizações e agradeço ainda mais os profissionais que perdem um pouco do seu precioso tempo respondendo a mim e ouvindo os áudios em mp3 que eu envio. Muito obrigado mesmo. De coração. Tem sido de grande ajuda. Posso garantir-lhes uma coisa: não sei como e nem quando, mas um dia, todas essas informações que vocês me passam, será de suma importância para manter o trabalho de vocês vivo na mente das pessoas por muito tempo. Luto para que mais gente dê o devido mérito ao trabalho de vocês ao longo dos anos e das épocas, afim de que sempre exista alguém registrando esse tipo de trabalho com o passar das décadas. A história é muito importante, e ela só existe enquanto existir alguém com o conhecimento dos fatos para poder contá-la. Quando não existir mais nenhuma pessoa que vivenciou ou sabe dos fatos, essa história termina, e cai no esquecimento.

Um ano se passou e acredito que consegui transcrever para este singelo espaço um pouco do que tenho estudado. Mas ainda tem muito pela frente. Sei que já fiz promessas no passado, mas uma hora o desejo se concretiza. Logo colocarei aqui as minhas recentes descobertas, que vão desde dubladores desconhecidos até então, à bate-papos via telefone e entrevistas com dubladores clássicos. E vamos começar mais um ano, iniciando esta nova etapa do Falando de Dublagem. E de séries japonesas. E do que mais tiver vontade de dissertar.

p.s.: não há necessidade de congratulações, pois o parabéns é pra VOCÊ, que me prestigia, posta comentários, divulga meu endereço, que lê mas não me dá feed-back, que é meu amigo no Orkut/ Facebook, que me segue no Twitter, que é amigo de Fóruns de discussão que frequento, que gosta do meu trabalho e me ajuda sempre que possível. Enfim, a todos. E até mesmo aqueles com quem eu nunca tive sequer um só contato, não se preocupem. Também sou seu fã, e um dia eu chego até você, isto é, se puder dispor de uma pequena parcela do seu tempo pra “jogar conversa fora”. Muito obrigado, novamente. Até.

sábado, 9 de outubro de 2010

Descanse em paz, Ary Fernandes

Há pouco mais de um mês, mais precisamente no dia 29/08/2010, faleceu o Cineasta, Diretor, Produtor e também Dublador Ary Fernandes, aos 79 anos.

De longe, seu projeto de maior importância profissional foi o Vigilante Rodoviário, seriado tupiniquim que seguia os mesmos moldes dos enlatados americanos dos anos 60. A obra contou com 38 episódios exibidos pela TV Tupi. Em 1978, Ary retomou o projeto ao concluir um filme (na verdade um novo piloto) sobre o Herói das estradas brasileiras, afim de alavancar a volta do personagem à TV, o que infelizmente acabou não acontecendo por problemas técnicos. Como o ator original Carlos Miranda já não tinha mais idade para representar um policial galã, o substituto escolhido foi Antônio Fronzar. Uma curiosidade interessante é que a pedido do próprio Ary Fernandes, o dublador escolhido para fazer a voz do Fronzar na produção foi o mega experiente Carlos Campanile, dono de um currículo espantoso na arte. Numa conversa informal o Campanile me contou essa passagem. Atualmente o Canal Brasil reprisa o seriado.

Há anos ouço sua voz em muitas produções dubladas e apenas há alguns meses fiquei sabendo o nome e conhecendo o rosto deste ator. Eu já tinha memorizado seu timbre de voz, pois ouvia com frequência ele dublando em produções da Álamo nos anos 90, como o desenho do Doug e do Homem Aranha, e zapeando pelos canais da Sky, encontrei o seriado “A Vida Moderna de Rocko”, nas madrugadas do Nickelodeon. Quando percebi que o protagonista tinha a voz que eu conhecia e queria saber quem era, comecei a pesquisar. Como era um protagonista, rapidinho cheguei ao nome do Ary, ao seu site e inclusive ao seu perfil no Orkut. Abordei-o e fui prontamente correspondido, com toda educação e prestatividade por parte dele.

Nos seriados tokusatsu, infelizmente ele teve apenas uma participação, no penúltimo capítulo de Maskman, fazendo a voz da bola que continha o segredo do Rei Zeba. No desenho do Homem Aranha, fez a segunda voz do Herbert Landon, em sua forma Homem/ Mutante. Nos animes, a única participação dele que me recordo foi como a voz do Mestre Albiór (Albiôn de Cefêu), o Mestre do Shun de Cavaleiros do Zodíaco, na versão da Gota Mágica. Fernandes era muito amigo do Mário Lúcio de Freitas, proprietário do estúdio. Freitas chegou a participar, quando criança, de um capítulo do Vigilante.

Segue um trecho dos Cavaleiros do Zodíaco, contendo o trabalho do Ary:


Um ator conhecido e admirado pelos colegas de trabalho que, junto com muitos outros profissionais, marcaram época e contribuíram ativamente para aquilo que temos hoje no cenário do Cinema Nacional e da arte em geral. Descanse em Paz, Grande Ary Fernandes.

Ouça a voz de Ary Fernandes dublando em Maskman clicando aqui!