terça-feira, 24 de maio de 2011

Jiban Box 01 - Review

Depois de algum atraso por conta da autoração e replicação dos discos, assim como aconteceu com o segundo Box do Flashman, chega às lojas o primeiro Box/ Lata do Policial de Aço Jiban, o mais novo lançamento da Focus Filmes.

Já sabíamos deste fato desde o ano passado, e estávamos esperançosos de que finalmente aparecessem os dois últimos capítulos com a dublagem clássica, que a Rede Manchete fez o favor de nunca exibir, frustrando muitos telespectadores assíduos do seriado na época (como este que vos fala...).

Infelizmente também já foi noticiado que houve um contato por parte da empresa com o Sr. José Roszemblitz da Top Tape, no intuito de adquirir dele as fitas do seriado para extração dos áudios, mas o mesmo informou que não retirou o seu pertence na emissora desde a exibição do seriado, em 1990/ 91. Desta forma, é mais uma relíquia ao qual os fãs dificilmente terão acesso, pois assim como Jiraiya, ficaram esquecidos no acervo da finada emissora, e ninguém faz idéia de onde isso pode estar. Mas nem tudo é tristeza, temos alguns diferenciais nesta coleção. Vamos à analise de praxe:

Primeiro: Imagem. Tenho o Disco 01 do Jiban lançado pela Toei, e printei algumas fotos pra comparar. O da Focus tem mais contraste que o da empresa nipônica, deixando as imagens um pouco mais escuras. A definição é praticamente a mesma, e percebe-se um pouco de perda na nitidez justamente pelo excesso de contraste. Analisando as duas versões em minha TV LCD de 42”, através do cabo Componente Vídeo no meu DVD Player, a imagem do DVD da Focus fica mais bonita, apresentando menos pixelização – as famosas quadriculações. Na TV convencional de tubo (29”), o da Toei, por ser mais claro, destaca mais. Minha opinião: A diferença é considerável se analisarmos da forma que fiz, frente ao computador e com olhar clínico, mas assistindo na TV, são idênticas. Eu gostei. Segue algumas amostras (1- Toei/ 2- Focus):

Segundo: Som. São (quase) os mesmos da versão feita pelo fã, pelo motivo já destacado lá no começo. Nos primeiros 26 capítulos que compõem este box, essa coleção tem algumas inovações em relação ao pirata: No 14 – Amor, a Palavra Chave, tínhamos alguns segundos no finalzinho com muitos chiados. Aqui foi corrigido. No episódio seguinte, o 15 – A Música do Monstro, a versão original era tirada de uma gravação caseira na qualidade EP. Agora possui áudio no mesmo padrão dos demais, isto é, com som de fita selada em SP. E por último, no capítulo 20 - A Chuva de Dinheiro, também o som era inferior (e continuou sendo), mas com um agravante: faltavam dois trechos da dublagem. Um no momento em que o Lyú Hayakáwa voltava ao carro pra trazer o lanche para a Ayúmi; e outro no momento em que a Madogárbo recebia a notícia do Kanenóide dizendo que Ayúmi foi encontrada, e aparecia uma cena do herói abraçando a menina e explodindo. Infelizmente é perceptível que a qualidade do áudio não é a mesma, mas pelo menos pra mim, prefiro desta forma do que em japonês. Fiz uma montagem no Youtube pra mostrar:


Atenção: a imagem é de vídeos que baixei da internet, e não do DVD da Focus. Somente o som eu tirei e montei o vídeo.

Detalhe: Antes do capítulo 01, mantiveram o vídeo da propaganda de estréia da série no Japão, que na tradução ficou como “Policial Tático Jiban”. Curiosamente a BGM usada é a parte da música tema da série anterior, Jiraiya.

Terceiro: Legendas. Mesmo padrão de qualidade que o Ricardo Cruz vem fazendo, traduzindo e adaptando títulos, placas, nomes, armamentos e golpes. Assim como no lançamento anterior, as legendas são selecionáveis, porém forçadas na abertura, encerramento, placas e Preview do próximo capítulo, uma vez que não existe dublagem desses trechos. Optaram - de forma correta - por manter os nomes originais de cada personagem: Mayúmi (Ayúmi), Harry (Halley), Boy (Bóris), Kyoshíro (Seichi), Dr. Giva (Dr. Jean Marrie), etc. Só a Moto (Bikan - "Baikân") e a Nave (Spiras - "Spairás") não receberam a romanização oficial: Vaican e Spylas.

Sobre as armas e golpes, achei legal saber o nome inteiro do Daidalóz e as funções do Maximilian, que na versão brasileira foram adaptados para “Fogo Mortal” (no primeiro capítulo) e “Raio Alfa”; posteriormente chamado também de “Golpe Raio X”. Alguns fatos também são esclarecidos, pelo menos pra mim:

Não sabia que o pai da Ayúmi, o Koíti Igarashi era médico e tinha uma clínica. Nunca me atentei ao detalhe de que sempre quando apareciam os familiares da menina, era mostrada essa placa. Outra coisa que talvez tenha sido um erro de dublagem, é que no capítulo 17 – Final Triste entre Mãe e Filha, a falsa Shizúi puxa o assunto na mesa do jantar, dizendo algo do tipo “Querido, a respeito do Jiban, acho que papai tinha algo a ver com tudo isso”. Dá a entender que o Dr. Kênzo Igarashi era pai dela, isto é, o avô materno da Ayúmi.

Nota: Nos capítulos que tem grandes cenas de luta sem diálogo, com a música tema tocando ao fundo, rola a tradução também! Esquisito, porém útil. Se mantiverem esse padrão, poderemos saber a tradução de músicas como Perfect Jiban, por exemplo.

Quarto: Menus. Mesmo esquema das séries anteriores, contendo cenas de alguns capítulos, com uma animação peculiar.

Quinto: Extras. Apenas algumas fotos de produção do seriado. No total tem umas 20, divididas pelos 5 discos. Separei algumas:

Sexto: Lata/ Box/ Label’s. Também seguem o padrão adotado pela empresa que todos já conhecemos. Sem necessidade de maiores detalhes.

Sétimo: Créditos de Dublagem. Disponíveis em Jaspion (numa relação errada e desatualizada, infelizmente) e depois somente em Flashman, voltam a aparecer nesta coleção. Mais uma vez tive o prazer de mandar esse material para a empresa, que aprovou e incluiu no projeto. Como não há muito espaço e nem tempo pra colocar todas as vozes e participações, dei prioridade para os nomes dos dubladores, colocando pelo menos um personagem de cada ator no crédito. É óbvio que muitos voltaram e fizeram outros personagens adiante, mas como não havia meio de colocar um cast diferente por episódio, optei por fazer deste modo. Um exemplo: é fato que o João Francisco Garcia fez a forma humana do monstro Kazenóide no capítulo 07 - O Monstro do Resfriado, e voltou a interpretar o Okaminóide no capítulo 15 - A Música do Monstro, mas ele não foi creditado duas vezes, então vai da pessoa que está assistindo assimilar a voz do personagem “x” e notar que o “y” também tem a mesma voz, e se tiver curiosidade de conhecer o nome do dublador, é só dar um pause e ver na relação:

Oitavo: Brindes. Três cards, como em outras séries.

Opinião final: APROVADO. Um bom lançamento, legendas coerentes, timming preciso, não há delay no áudio e sem surpresas desta vez. Já assisti 6 capítulos aleatórios. Dou nota 9,0. Pra ser 10, só se tivessem conseguido toda a dublagem com qualidade de CD, mas a culpa nesse caso, segundo o que foi informado, não é da Focus. Sobre os dois últimos capítulos, eles realmente receberão uma nova dublagem, o que é melhor do que sair apenas com legendas. Na minha modesta opinião, temos dubladores na ativa que podem fazer um bom trabalho substituindo o Narrador, o Dr. Jean Marrie e a Ayúmi, porém, a voz do magnífico Carlos Laranjeira no herói vai ser difícil. Desde que foi noticiado que essa série ia ser lançada, fiquei pensando em alguém com um timbre parecido, mas não consegui encontrar. Desejo toda sorte do mundo ao estúdio que assumir essa empreitada, e mais sorte ainda ao dublador escolhido. Serão apenas dois capítulos, mas de uma série com um trabalho primoroso já feito há duas décadas, com profissionais que marcaram a infância e que até hoje são adorados por muitos fãs. Também não podemos esquecer das adaptações, pois Dr. Kiba virou Jean Marrie, Mayúmi virou Ayúmi, e assim por diante. Seria triste ver uma versão atual não levar em consideração o que já foi feito. Estaremos no aguardo, e a disposição pra ajudar, se for o caso.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

ÁLAMO: Eternamente

Semana passada, o que parecia impossível, aconteceu. Foi divulgado que a ÁLAMO, a maior e mais antiga empresa de dublagem de São Paulo vai encerrar as atividades após quase 39 anos de existência.

Fundada em Outubro de 1972 pelo imigrante Inglês Sr. Michael Stoll, que chegara ao país como peça chave para compor o núcleo da Cia. Vera Cruz de cinema, estava destinada ao sucesso desde sua constituição. Empresário diferenciado e com um espírito aguçado para os negócios, logo viu no seu ramo de atividade - o de Técnico de Som - uma oportunidade para ingressar em um novo segmento, o da Dublagem para filmes e produções estrangeiras, que na época, com o advento da televisão, dava indícios de que seria um promissor ramo de atividade. Um pouco antes da Álamo, criara também a Brascontinental, uma distribuidora que atendia quase que exclusivamente a demanda da TV, que ainda engatinhava no país.

Neste cenário do início dos anos 70, tínhamos a pioneira A.I.C. - SP, ainda em atividade, cujo legado perdura até os dias de hoje; A Odil FonoBrasil, de propriedade da família de Ademar de Barros; e a filial recém criada dos estúdios da Cine Castro - RJ (que teve um fim precoce, já em 1973). Com um começo modesto, planejamento bem definido, muito trabalho e determinação, Stoll foi ganhando cada vez mais espaço no ramo, consolidando-se a partir de 1976, com o fechamento da A.I.C. Um movimento liderado pelos dubladores que ali trabalhavam assumiu a falida empresa e administrou-a como uma Cooperativa por um tempo, até se transformar na atual BKS. Mesmo assim, alguns profissionais migraram para o emergente conglomerado para buscar novas oportunidades. Inclusive, uma das maiores obras primas da dublagem lembradas pelos fãs até hoje lá foi gravada (infelizmente, eternizada apenas na memória de quem pode acompanhar), o desenho japonês – entenda-se “anime” – Pinóquio, imortalizado na voz de Ivete Jayme. Um sucesso absoluto da ocasião, exibido pela TV Tupi, TV Record (começo dos anos 80) e posteriormente TVS/ SBT. Houve ainda uma última reapresentação na segunda metade dos anos 90, pela Fox Kids e Rede Globo, todavia, com uma redublagem feita na VTI - Rio.

Focada na qualidade sonora e artística, o estúdio mostrava que tinha chegado pra ficar. No começo dos anos 80, a Álamo abriu as portas para novos talentos, atitude esta repetida várias vezes ao longo da história (e talvez o principal motivo de seu sucesso, sempre renovado a cada época). Novas vozes ingressaram e deram continuidade ao diferenciado trabalho que já vinha sendo feito. Muitos filmes, séries, desenhos, animes e até produções nacionais passaram por um processo de tradução, adaptação, dublagem, mixagem e finalização naquele espaço.

Na segunda metade dos anos 80, com a popularização do Videocassete, abre-se mercado para um novo segmento, o do Home Vídeo. Surge assim uma lacuna para disseminar cada vez mais produções com a maravilhosa e crescente arte brasileira. Cópias dubladas – e também legendadas, fato - eram replicadas intensamente, abastecendo locadoras a fim de suprir esse novo conforto proporcionado ao público: o de escolher o que assistir e na hora que quisesse.

Matéria gravada no estúdio no começo dos anos 90, à respeito das produções dubladas para VHS:

Nesta ocasião, as crianças que hoje estão na casa dos 30 e poucos anos foram bombardeados por uma avalanche de produções nipônicas do gênero "Live Action", com gente de verdade interpretando inúmeros heróis de olhos puxados, roupas coloridas e monstros de borracha. O que já não era novidade no país, uma vez que séries como National Kid e Ultraman já tinham feito a felicidade dos titios e vovôs de hoje em dia em décadas passadas. Jaspion, Changeman, Flashman, Jiraiya e Cia. Ltda tiveram sua versão brasileira a cargo do estúdio. Felizmente, esses lançamentos estão sendo eternizados pela Focus Filmes em DVD, disponibilizando a maravilhosa dublagem clássica.

Trecho da série Policial de Aço Jiban, outro sucesso japonês da TV Manchete, também dublada pela Álamo:


Líbero Miguel, Diretor Artístico da empresa na ocasião, era uma pessoa com um currículo ímpar. Tinha experiência em rádio, tv, teatro, e uma veia artística inquestionável. Dono de uma das vozes mais marcantes e poderosas da dublagem paulista, foi a porta de entrada de muitos talentos que até hoje nos brindam com excelentes trabalhos na dublagem e direção, seguindo a risca os princípios e ideais de seu mentor. Sempre ao lado do proprietário Stoll, traçavam o caminho a ser seguido, tendo sempre a qualidade como ponto chave. Inclusive a tecnologia sempre foi acompanhada de perto, fazendo com que o estúdio fosse o primeiro da América Latina a ter equipamentos para gravar no sistema Dolby Stereo, o extremo da qualidade sonora dividido em diversos canais. Infelizmente em Setembro de 1989, Líbero veio a falecer, mas sua esposa, Nair Silva, assumiu a empreitada e manteve-se no posto até Junho de 1996, conservando o padrão dos trabalhos ali realizados. Muitos diretores também fizeram trabalhos memoráveis com o passar dos anos: Mário Jorge Montini, Gilberto Baroli, Carlos Alberto Amaral, João Paulo Ramalho, Eduardo Camarão (que mais tarde também ocupou o cargo de Coordenador por um tempo), Ricardo Nóvoa, dentre outros.

Abaixo, uma matéria excelente do site Buteco da Net, com entrevistas (Alan Stoll, Diretor Geral do estúdio, inclusive), informações e muitas curiosidades sobre dublagem em geral:


E como nunca faltou trabalho, a TV sempre esteve recheada dessas obras: Filmes de renome como Bradock, Superman IV, Comando Delta, American Ninja, As Minas do Rei Salomão, A Cidade de Ouro Perdida e Tartarugas Ninja são exemplos de produções que tiveram sua versão brasileira brilhantemente à cargo do estúdio. Também muitas séries norte americanas foram dubladas lá: Muppet’s Show, Super Vicky, Anos Incríveis, O Mundo de Beakman, etc. Os desenhos não podem ficar de fora, e também marcaram época: Doug, O Fantástico Mundo de Bobby, Os Anjinhos, Homem Aranha e Quarteto Fantástico, só pra citar alguns.

Mas foi nos animes que a empresa se especializou e conquistou os corações dos Otakus de plantão. Matematicamente falando, pode-se dizer que pelo menos setenta por cento dos desenhos japoneses que passaram no país tiveram como assinatura o importante selo "Versão Brasileira: Álamo". Voltando nos anos 80, teve um anime majestosamente bem trabalhado, cuja repercussão foi acanhada, ofuscada pelo sucesso das demais séries japonesas, chamado Comando Triplo Dolbuck. Trazendo um elenco gabaritado como protagonistas, Eduardo Camarão, Carlos Laranjeira e Rosa Maria Baroli puseram o máximo de suas interpretações na série:


Dois anos depois, o anime Zillion, exibido pela Rede Globo no programa da Xuxa, foi um sucesso estrondoso, repetindo os mesmos atores de Dolbuck, com a mocinha, desta vez, à cargo de Neuza Maria Faro:


Nas produções dos anos 90, não houve um destaque muito grande, já que as animações passaram, em sua maioria, pela Gota Mágica, DublaVídeo e MasterSound. Mas esse cenário estava prestes a sofrer uma mudança total. Em 1999, Dragon Ball Z praticamente iniciou essa nova etapa, passando pela redublagem do cult Os Cavaleiros do Zodíaco (em 2003), e trazendo uma avalanche de séries para canais como Cartoon Network, Fox Kids, Locomotion e Animax. Inclusive neste ano, até a mais nova animação de FullMetal Alchemist Brotherhood, que ainda nem estreou no canal Sony Spin, teve a dublagem realizada pela casa. Traduções competentes, vozes bem escaladas, direção gabaritada, mixagem e "lypsinc" impecáveis foram os fatores levados em consideração pelos telespectadores. Mas havia muito mais além disso.

Como não sou do meio artístico, nunca tive a oportunidade de entrar na empresa e nem faço parte do cotidiano dos que ali trabalham, não posso dar total fé para as afirmações a seguir. Trata-se de MINHA SINGELA OPINIÃO, baseada em relatos de pessoas com quem pude conversar no decorrer de quase 4 anos em minha pesquisa.

E do outro lado, do âmbito interno, também só compreendi pontos positivos. Segurança, respeito, competência, igualdade, organização, e prazos – sim, de pagamento – são algumas das palavras que eram ligadas ao funcionamento da organização. Mas também seria uma utopia imaginar que nunca ninguém tenha tido algum tipo de desentendimento com a política da empresa ou de algum colaborador em específico. Deste modo, alguns se afastaram e optaram por não mais trabalhar lá; outros, a casa optou por não mais solicitar os seus serviços, porém, isto não impediu que a empresa e o profissional continuassem tendo sucesso em suas empreitadas.

Os motivos reais que levaram o Sr. Alan Stoll, filho do Seu Michael e atual proprietário a optar pelo encerramento da empresa ainda são desconhecidos. Acredito que nem serão informados para a "imprensa especializada”, mas garanto que os demais donos de estúdios, além de muitos dubladores vão conhecer a causa real. Alguns até arriscam palpites, baseando-se no cenário atual desse segmento de mercado.

Atualmente existem, segundo apurei, 23 estúdios de dublagem na capital paulista em plena e total atividade. Alguns não focam totalmente na dublagem, porém, volta e meia estão recebendo filmes para fazer a versão brasileira. O trabalho existe, e nunca deixou de existir, da mesma forma que Hollywood jamais parou de produzir filmes. O que acontece é que em determinadas épocas, o fluxo aumenta ou diminui drasticamente. Outrora, optam (os distribuidores) por mandar mais trabalhos para o Rio de Janeiro. Mais tarde, a divisão é feita novamente e a balança volta a se equilibrar. Mas o sucateamento e a transformação da arte de dublar em algo mecânico, acabou tornando o trabalho "frio" e industrial, assim como numa linha de produção. E em linhas de produção, existem metas, para que compromissos sejam honrados e prazos cumpridos, já que tudo gira em torno da relação produção/ faturamento. Se produzir pouco, fatura menos. Mas uma empresa de injeção e sopro, por exemplo, que possui máquinas ultra rápidas sendo monitoras por um só operador, jamais pode ser comparada à um trabalho artístico, feito por atores injetando os mais diversos sentimentos, onde leva-se um certo tempo para que um resultado final satisfatório seja alcançado. E tudo indica que foi isso o que fez com que essa medida fosse tomada. Como o que está sendo levado em consideração pelos distribuidores e pelos consumidores – sim, nós – não está sendo a qualidade, mas o preço, cria-se essa situação, fazendo com que adaptações ruins feitas em Miami e em estúdios obscuros que não atendem as normas do sindicato abocanhem uma boa parte do mercado, prejudicando aqueles que trabalham de forma totalmente lícita.

Uma empresa que sempre pregou pela qualidade não pode, do dia pra noite, simplesmente abandonar sua identidade e dar uma volta de 180º na sua política interna, fazendo tudo de forma diferente. Com o tamanho e a estrutura alcançada pelo estúdio, até no súbito fim o bom senso e a ideologia de outrora persistiu. Nada de falências, como aconteceu com outras empresas ao longo da história, que simplesmente acabaram num piscar de olhos, deixando desamparados técnicos, funcionários e diretores. Os que ali trabalham atualmente serão sim demitidos, porém, já estão cumprindo aviso prévio, terão suas carteiras de trabalho baixadas, e todos os amparos legais. E já vi um ex-colaborador expressando no Facebook o ORGULHO de ter sido um funcionário do conglomerado. Até o último suspiro o respeito para com os empregados foi uma preocupação.

Na minha única e exclusiva opinião, sem qualquer tipo de confirmação por conta da direção da empresa ou terceiros com eventuais ligações, creio que o proprietário simplesmente analisou o cenário atual, viu o rumo que as coisas estavam tomando, e percebeu que não deveria trabalhar do modo que vem acontecendo; esses fatores, aliados ao retorno financeiro não condizente, obrigaram-no a optar por parar. Duvido que tenha sido algum prejuízo (calote), e arrisco o palpite de que encerrou o exercício contábil no azul. Mas como manter tantos funcionários, responsabilidades, equipamentos de ponta e um infra estrutura impecável não estava sendo lucrativo, pra que esperar o barco afundar de vez? Assim tantos outros proprietários tivessem previsto essa situação e tomado uma atitude racional e correta como esta.

É triste o fim? Sem dúvidas. Quando comecei a ler a respeito no Dublanet, Orkut, Twitter e Facebook, confesso que fiquei com um nó na garganta. Desde muito criança, atribuo um grande percentual de minhas diversões em frente a TV à três grupos: A Toei, empresa japonesa que mais produz animes e tokusatsu; aos dubladores, que por meio de seus talentos encarnaram tantos heróis e vilões; e à Álamo, que deu a estrutura necessária para que tudo fluísse da melhor maneira possível. O sentimento é estranho, difícil de explicar, mas é literalmente o fim de um sonho. Uma época. Um pensamento. Uma ideologia. Sou péssimo em analogias, mas compararia o caso à perda de um familiar.

E como vai ficar? Creio que inicialmente pouco muda. Os demais estúdios continuarão, até o dia em que tal situação chegue até eles, pois infelizmente nada é para sempre. Para os dubladores, também acredito que num primeiro momento não muda quase nada. Os trabalhos que seriam da Álamo, encontrarão uma nova casa. E os atores também chegarão até esta casa, de um jeito ou de outro.

Infelizmente não pude conhecer a lendária Álamo, um lugar onde muitos sonhos foram criados, pelo menos pra mim. Mas vou carregar para o resto da minha vida tudo o que aprendi com produções lá dubladas. Ri, sofri, temi e aprendi assistindo essas séries, imaginando os profissionais dentro de um estúdio grande e escuro, fazendo aquilo que lhes dava prazer, para proporcionar, pelo menos uma fração do mesmo sentimento aos telespectadores. Por este motivo, minha pesquisa não vai parar. Muitos Dubladores e sem dúvidas outros estúdios ainda a merecem.

E também não posso me esquecer dos últimos diretores que lá estão, sem deixar a peteca cair, assinando trabalhos com toda a responsabilidade e orgulho em fazer parte do universo Álamo. Angélica Santos, Wendel Bezerra, Wellington Lima e Úrsula Bezerra, que são os que eu tenho contato. Parabéns por serem profissionais cujo ideais coincidem com a filosofia da Álamo.

VERSÃO BRASILEIRA: ÁLAMO. Eternamente em nossas vidas e corações. Obrigado Sr. Michael Stoll e Alan Mark Stoll, que deu continuidade à criação de seu pai e conduziu da mesma forma esse império por tantos anos após o falecimento do idealizador, ocorrido em 2005. A chama da Álamo jamais vai se extinguir nas lembranças dos fãs e de todos os felizardos que tiveram a oportunidade de passar por ali, e eu pretendo ser, pelo menos, uma parte desse elo de ligação, a partir deste ponto final até o futuro. ETERNAMENTE: ÁLAMO.