segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Conhecendo a Álamo

08/06/2011 foi um dia marcante na minha vida. Uma data que vai ficar cravada na minha memória pra sempre, pois tive a oportunidade de conhecer nada mais nada menos que o prédio da lendária Álamo, a maior e mais completa empresa de dublagem de São Paulo. Uma fábrica de sonhos, que acompanho através dos trabalhos ali realizados desde a minha infância.

Tudo começou com a notícia bombástica veiculada no começo do mês de maio, à respeito do fechamento da empresa. Através do Twitter, Hermes Baroli, um dos primeiros a ficar sabendo, comunicava a todos a triste realidade . Foi um choque total para os fãs, para os dubladores, e também para os colaboradores da empresa. Automaticamente, o assunto repercutiu por todos os cantos, e inúmeras suspeitas foram levantadas - a maioria delas sem fundamento algum: falência, inadimplência, má administração, dentre outros. Comunidades no Orkut, fóruns de discussão, sites especializados e pessoas comuns, por intermédio das redes sociais, começaram a correr atrás de respostas sobre o porque de um acontecimento desta magnitude, jamais imaginado.

Não há dúvidas que muito material preciso e esclarecedor foi publicado, como entrevistas com dubladores e gente que estava ligada diretamente à administração da empresa, começando a sanar algumas das tantas interrogações à respeito deste assunto. Mas um sentimento era unânime: a tristeza, compartilhada literalmente por TODOS, cuja arte ali criada tenha atingido, indepentende da forma.

Para mim foi um choque. Confesso que travei, minha mãos se congelaram, o coração disparou, a garganta se afunilou, e não contive as lágrimas. Sentimento este que está se repetindo neste exato momento, ao relembrar. Como pode um império construído com tamanha solidez, por quem sabia o que estava fazendo, simplesmente acabar? E por que? Depois de alguns anos críticos para a arte (segunda metade dos anos 2000), aparentemente tudo havia se encaixado; o trabalho existia, a demanda era crescente, e além de tudo, jamais a empresa havia sequer dado indícios de algum tipo de problema interno que resultasse nesta atitude.

Aos poucos, relatos de dubladores (e até mesmo de funcionários) começaram a aparecer, e as primeiras teorias maldosas começaram a ruir. Não havia declaração de um porta voz oficial, mas era sabido que, analisando o cenário atual, o modelo atual da empresa - a nível estrutural - não era mais compatível com este mercado, e estratégicamente, a pessoa a frente do conglomerado havia decidido colocar um ponto final e "terminar" de uma forma digna e coerente, do que insistir na tentativa e possivelmente acabar como os demais estúdios históricos, que fizeram muito sucesso em suas épocas, e tiveram finais nada gloriosos. Nelson Machado teve a oportunidade de ficar cara-a-cara com com esta pessoa, numa das mais emocionantes entrevistas que pude presenciar:



Ainda assim inconformado, redigi um texto contendo uma homenagem, falando exatamente o que eu via e sentia mediante aquilo que era veiculado, tal qual estou fazendo neste momento. Era apenas o meu ponto de vista. Trata-se desta postagem, que jamais imaginaria que iria chegar onde chegou.

Alan Stoll, o proprietário da empresa, leu o meu texto e me contatou, via Facebook e e-mail, agradecendo as palavras de um simples simpatizante para com o produto que era concebido dentro das dependências de sua organização. E assim, inesperadamente, diante de todos os problemas que vinha enfrentando, encontrou uma brecha e me convidou para conhecer a Álamo. Não é possível descrever com palavras o que senti ao ler aquela mensagem, que está guardada até hoje em minha caixa de e-mails.

Na data mencionada anteriormente, segui viajem rumo à São Paulo, optando por transporte coletivo rodoviário. Chegando no terminal do Tietê, embarquei no metrô e segui o meu trajeto com sentido à estação Vila Mariana. Cheguei por volta das 15:00 horas. Em frente ao prédio, do outro lado da rua, fiquei um tempo admirando a fachada, que guardava o tom clássico de uma construção civil dos anos 70. Particularmente gosto muito desse modelo de prédio. Então, tomei coragem e atravessei a rua, rumo à portaria/ interfone.

Abro um pequeno parêntese pra deixar mais claro o itinerário que percorri conhecendo o local: o predio pioneiro, o da esquerda (01), é onde fica a Recepção e os Estúdios de Captação - gravação das vozes - na parte dos fundos. No segundo andar, está localizado a Administração e o Refeitório. A construção mais recente, a da direita (02), agrega as Salas de Mixagem e a Sala de Cinema.

Pedi pra falar com o Sr. Alan, que não estava na empresa. Comentei que havia recebido um convite, que foi prontamente confirmado e atendido pela recepcionista, que no mesmo momento autorizou a minha entrada. Avistei então a famosa rampa de chegada. Era nítido que estava maravilhado com tudo aquilo.

Neste momento, o Sr. Pedro Tadeu Covo, um colaborador que sempre esteve ao lado do Sr. Michael Stoll - e continua trabalhando ao lado do atual Diretor - veio até mim, me cumprimentou e disse que o Alan teve um compromisso, mas que havia deixado avisado que eu poderia adentrar, conhecer e fotografar tudo. Ele inclusive me acompanhou, apresentado outros funcionários e as demais repartições da empresa. Ali começava outra etapa da minha viagem.

Tirei algumas fotos da parte externa:

Após a rampa de entrada, o corredor que pode ser avistado à frente, entre os dois prédios; e do lado esquerdo.

A parte superior do prédio 01 e a parte traseira, onde ficam os estúdios.

Novamente o corredor central, visto de outro ângulo. Atentem às pessoas que ali estão. Eu já tinha visualizado alguns dubladores extremamente conhecidos pelo público, que serão citados mais adiante.

Parte inferior do prédio 02 e a porta lateral de acesso.

Começamos então a visita interna. O prédio dos Estúdios de Mixagem estava funcionando naquele momento, então o Tadeu me convidou pra conhecer a aparelhagem e o processo em execução.

Hall principal e as janelas que dão vista para a contrução ao lado.

Já de cara, antes de subir as escadas, ninguém menos que Marli Bortoletto estava vindo em nossa direção. Fui apresentado à ela pelo profissional. Quanta simpatia e gentileza numa só pessoa. Troquei algumas palavras com ela - admirando aquela doce voz - e disse que era fã desde sempre, e que conhecia muita coisa que ela havia feito na carreira. Lamentei a ausência dela nas redes sociais, pois uma profissional deste calibre, poderia ser mais "acessível". Ela disse que não entende muito de computador, mas que fica sabendo das novidades através de sua filha.

Sala de Cinema: onde são exibidos os filmes, aos olhos atentos de um mixador profissional. Muitos filmes brasileiros são finalizados aqui. O ambiente é literalmente envolvente, amplo, limpo, e possui um design arrojado.

Na sala ao fundo, os equipamentos de projeção e armazenamento.

Em seguida, entramos na outra sala de mixagem, a que estava em operação. Naquele instante, o técnico estava fazendo a montagem dos áudios do anime FullMetal Alchemist: Brotherhood. Na tela, um personagem alternava suas falas com a voz em japonês e com a dublagem, prontamente reconhecida por mim como sendo a voz do Luiz Antonio Lobue. Mais uma vez o que se destaca é o espaço gigantesco e os equipamentos de alta tecnologia, devidamente organizados. O som é extremamente nítido e preciso. Nada de fones de ouvido ou coisa do tipo: o som tem que ser analisado ambientalmente, sendo respeitado todos os tipos de efeitos que compõem a trilha original.

Na primeira imagem, vemos o mixador trabalhando e o Tadeu ao fundo.

Ali, novamente fui surpreendido por outro dublador: Wendel Bezerra. Este é sem dúvidas a voz que está mais em evidência no país neste momento. Desenhos (Bob Esponja), Animes (Dragon Ball Kai), Filmes (Crepúsculo), Comerciais de TV (Axe), Brinquedos (Candide), etc. Até então eu nunca tinha conversado com ele, nem por e-mail. Mas apresentei-me, e trocamos algumas palavras. Muito gentil. E eu que imaginava que já tinha tido emoções suficientes, nem idealizava o que ainda estava por vir. Seguimos então para o prédio pioneiro, onde ficam os estúdios de captação de vozes. Enquanto andávamos, pude conversar bastante coisa com o Tadeu, que me contou algumas curiosidades do começo de tudo. Enfim, um papo agradável e proveitoso, de um profissional que havia abdicado de seu trabalho somente para me acompanhar.

No caminho, saindo da recepção, estava a Úrsula Bezerra. Já tinha trocado algumas mensagens com ela pelo Facebook, e pudemos nos conhecer e ter uma conversa bem rápida, pois ela estava atrasada e precisava ir ao banco.

Nas duas primeiras imagens, vemos o corredor (dos dois ângulos) que levam aos estúdios. As prateleiras brancas eram usadas antigamente para armazenar as fitas usadas no processo. A escada em espiral e a porta branca na parte de cima, era usada pelos os técnicos que reproduziam, antigamente, a película para que os dubladores e diretores fizessem o seu trabalho. Atualmente é tudo informatizado, e a exibição é feita através de uma tela de TV convencional, que ocupa muito menos espaço e é bem mais dinâmica.

Por incrível que pareça, após ter presenciado um aparato tecnológico de ponta, o que mais me cativou foi justamente os estúdios e sua simplicidade. Segundo o meu acompanhante, o aspecto físico é exatamente o mesmo desde a inauguração do prédio. Ao adentrar naquele espaço, outro sentimento indiscritível tomou conta de mim. Um filme passou pela minha cabeça. Era impossível não olhar naquela cadeira e na mesa de madeira na sala de direção, e não imaginar Líbero Miguel, Nair Silva, Gilberto Baroli, João Paulo Ramalho, Carlos Alberto Amaral, Ézio Ramos e tantos outros nomes que ali sentaram por inúmeras vezes, regendo os dubladores que fariam suas gravações.

Novamente pode se avistar equipamentos de última geração. Cada estúdio conta com seu iMac, rodando o software de gravação de áudio.

Em seguida, mais emoções: hora de ficar no mesmo cômodo onde GIGANTES da dublagem passaram grande parte de suas vidas. Novamente a "tecla play" toma conta de minha mente. Detalhe que neste momento o Tadeu precisou sair para atender uma ligação em sua sala, e eu fiquei ali, sozinho, imaginando incontáveis passagens. Olhava para a bancada, para o telão, para o chão... e pensava que exatamente onde eu estava, estiveram saudosos artistas que não estão mais entre nós: Carlos Laranjeira, Gastão Malta, Marcos Lander, Ricardo Medrado, Jorge Pires, Oswaldo Boaretto, Borges de Barros, Francisco Borges, etc. Ao mesmo tempo, outros nomes que ali começaram suas carreiras de sucesso, também foram lembrados: Francisco Brêtas, Christina Rodrigues, Lucia Helena Azevedo, Alessandra Araújo, Eduardo Camarão, Angélica Santos, Wendel Bezerra, Hermes Baroli, Leticia Quinto, Elcio Sodré, Mauro Eduardo Lima, Tatá Guarnieri, dentre muitos outros.

Há duas portas que separam a sala do diretor da sala onde ficam os dubladores. Tudo para que a acústica seja preservada. É possível perceber o tamanho do cômodo, que abriga até mesmo um sofá, onde ficavam os atores aguardando pra gravar, no caso de um vozeirio. Bem ao fundo fica o telão, que está desativado.

Fui avisado de que logo mais, às 16:00 horas, haveria uma gravação. Era um trecho de um capítulo do desenho Kick Butowski, exibido pelo Disney XD, sob a direção de Jussara Marques. Também fiquei conhecendo-a e seu técnico de som, Rafael Santi, neste momento. A gravação durou pouco tempo, mas foi o suficiente pra ver a precisão de um trabalho bem feito. A captura dos diálogos é algo rápido e prático, e caso - na opinião da diretora - necessite ser refeito, é imediatamente exibido novamente e regravado.

Em seguida, saí andando pelos corredores, passei pela recepção (onde tinha mais dubladores) e fui ver onde ficava a pedra de escalas, aquelas onde constam as produções a serem dubladas, os dubladores escalados, diretores, estúdio e horário. Havia uma série de nomes do dia anterior e posterior também. Basicamente de duas produções: FullMetal, dirigido pela Úrsula; e Butowski, pela Jussara. Haviam passado por lá no dia anterior o Sergio Corcetti, Marcelo Pissardini, Gilberto Baroli, dentre outros.

Ainda fiquei perambulando por ali, olhando e fotografando, mas sem abordar ninguém. Fiquei extremamente receoso em incomodar o pessoal que estava trabalhando ou esperando pra gravar. Na minha cabeça, eu já tinha conseguido muito, então evitei de "tietar" os que ali estavam. Permaneci encostado no batente da porta, na sala da recepção, e avistei o Wellington Lima. Na verdade, já tinha visto ele saindo de um estúdio. Em seguida, chegou o Hermes Baroli, cumprimentou todos os colegas e veio falar comigo um pouco. Fiquei super lisonjeado por ter me reconhecido. Depois foi ver sua escala e trabalhar. Em seguida, chegou o Hélio Vaccari. Entrou e gentilmente saudou todos os que ali estavam. Quem diria que ia ver um dos tantos talentos da A.I.C. diante de mim. Mas como estava na minha postura "defensiva", também não o incomodei. Por ter escolhido me comportar desta forma, acabei não tirando foto com ninguém...

Resolvi deixar todo mundo a vontade, e fui para o lado de fora. Comecei a mexer na câmera, analisando as fotos que tinha tirado, e quando olho para rampa, vem chegando ninguém menos que a Rosa Maria. Arregalei os olhos e não acreditei. Ela falou "oi" pra quem tava ali fora, olhou para mim (que estava justamente na porta), subiu o degrau da recepção, voltou e me disse: "Ivan Betarelli, o que você está fazendo aqui?" Travei. Literalmente. O Well, que estava sentado mas prestando atenção, se levantou e foi até lá também, e disse que "sabia que conhecia o meu rosto". Fiquei nervoso, espantado e feliz ao mesmo tempo. A emoção de conhecer um ídolo é uma coisa, mas ser reconhecido por este não dá pra explicar. Mas como já era um pouco tarde, e eu tinha que fazer todo o trajeto de volta, não deu pra conversar praticamente nada.

As portas dos demais estúdios, que fazem ligação com a recepção...

... e os corredores internos, que ligam a também recepção aos estúdios dos fundos/ saída lateral do prédio.

Assim, quando estava me preparando pra sair, eis que o Alan chega, olha pra mim e diz: "Você é o Ivan, né? Seja bem vindo." Veio até mim, me deu um abraço, e me chamou pra conhecer o andar de cima, e pra conversar um pouco com ele.

A escadaria que leva ao segundo andar e o refeitório/ copa.

Fui extremamente bem atendido por ele, que gastou seu precioso tempo para sentar-se e trocar algumas palavras comigo. Falamos sobre algumas épocas da dublagem, a criação e a idealização de seu pai, desde o começo até onde tinha chegado, o seu início na parte administrativa da casa, do momento delicado, enfim. Foram uns 15 minutos de uma conversa prazerosa. Mas como eu já sabia que ele estava ocupado - e também havia outra pessoa aguardando pra falar com ele - pedi licença, agradeci inúmeras vezes o convite para a realização deste sonho, e me despedi.

No meu trajeto de volta, ficaram as lembranças das pessoas que vi e conversei, e um sentimento estranho de nostalgia, o que normalmente a gente sente de algo que já passou, ou de algum lugar que já esteve. No tempo que fiquei passeando por lá, sentia algo parecido com saudade, como se há muito tempo eu não estivesse naquele local. Vai ficar pra sempre na lembrança o dia em que pude estar no mesmo lugar onde estiveram inúmeros ídolos ao longo de tantos anos. O que conforta um pouco são as palavras do Alan no vídeo do Nelson, onde ele diz que "a Álamo não está acabando, e sim se reestruturando, para quem sabe, uma possível volta no futuro, num formato mais compacto, que é o necessário".

Mais uma vez agradeço principalmente ao Alan Mark Stoll, por ter me concedido esta chance única de ver um pouquinho do que foi tudo aquilo, ainda com os estúdios montados e equipamentos funcionando. Um grande abraço e o desejo de sucesso em sua carreira, independente daquilo que resolver fazer em sua vida daqui pra frente, Alan. Muito obrigado do fundo do coração.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Alexandre Reinecke, a Terceira voz do Lion Man Branco

Lion Man, uma série do início dos anos 70, foi algo, no mínimo diferente na TV brasileira. Contendo um enredo totalmente distinto do que já tinha sido apresentado, trouxe uma temática mais adulta, com uma certa pitada de violência, focada nos acontecimentos de um Japão da era Feudal, repleto de Samurais e Ninjas, figuras que sempre despertaram certo interesse para o público deste lado do planeta.

Não é errado dizer que esta foi uma das produções que menos se destacou mediante a avalanche de super heróis de roupas coloridas - ou compostas de fibra de vidro tentando imitar o metal. Mas com certeza animou as manhãs e tardes dos seus inúmeros telespectadores, e que até hoje tem seus fiéis seguidores, lembrando com saudosismo as aventuras do Leão Laranja/ Branco.

É valido comentar que esta série teve uma passagem um pouco conturbada e até certo ponto desorganizada no Brasil. Mas tal fato, guardadas as devidas proporções, também aconteceu em seu país de origem. A série original, Kaiketsu Lion Maru - o de cor BRANCA - começou a ser exibida no Japão em 01/04/1972 e encerrou-se no dia 07/04/1973, totalizando 54 episódios. Produzida pela P-Production, sucedeu o herói Spectreman, outro conhecido das crianças brasileiras que assistiam a TVS, em meados dos anos 80. No geral, teve uma repercussão considerável, o que ocasionou uma espécie de continuação.

Então, na semana seguinte, em 14/04/1973, Fuun Lion Maru - o de cor LARANJA - estreava na Fuji TV, sendo finalizada com apenas 25 episódios, no dia 29/09 do mesmo ano. Esta nova versão, contava com o mesmo protagonista da anterior, Tetsuya Ushio, sob o mesmo alter ego Dan Shishimarú/ Lion Marú, e também seguia o mesmo padrão de narrativa: um jovem herói solitário, com poderes misteriosos, se levantava abertamente contra um império inimigo que pretendia tomar o Japão, e no decorrer de sua jornada, era auxiliado por uma jovem e um garoto. Sem muita amarração com a história pioneira, em alguns capítulos dava a entender que os fatos ocorridos na "fase" Kaiketsu eram apenas ilusões ou sonhos, visto que em determinado episódio, o Leão Branco aparece em frente à Shishimarú, invocando-o, numa espécie de dejavú. Havia um outro personagem que constava nas duas versões, Tiger Joe, que também acabou sendo incluído na continuação de forma avulsa.

A estréia por aqui aconteceu na TV Manchete, em 02 de Outubro de 1989, ao lado de Jiraiya. A série do Leão (Laranja) tinha apenas 10 capítulos exibidos, e em seguida era reprisada. Mais adiante, teve os demais apresentados, inclusive o final - prática nem sempre corriqueira na época. Após algum tempo, literalmente sem aviso prévio, a emissora começou a passar capítulos da fase "Branca" no meio da exibição daquela que estava no ar. E a primeira versão nipônica (que aqui foi a segunda a ser mostrada) tinha um arranjo diferente nas músicas de abertura e encerramento, além de algumas músicas de fundo (BGM's). Isso porque a Top Tape, distribuidora do seriado, quis disseminar as canções tupiniquins, com intuito de lançar fitas cassete e um LP. E assim aconteceu por um determinado tempo, e até hoje não teve ninguém que pudesse explicar o porque dessa misturança de forma aleatória. Há teorias de que só foram exibidos alguns capítulos, desrespeitando totalmente a cronologia original. Na coleção não oficial de DVD's que circula pela internet, existe o áudio dublado dos seguintes capítulos:

01 - Orotí, o Enviado de Satan;
02 - Derrubem o Monstro da Montanha;
07 - Ataque à Montanha de Ouro;
08 - O Nascimento do Diabo e o Homem Monstro;
09 - O Vampiro Zumbi Chama os Mortos;
11 - Gamakiriân, o Lobo do Inferno;
12 - O Buraco do Mar e o Monstro Kirôji;
13 - O Monstro Peixe;
14 - O Monstro Errante Nezugânda;
22 - A Flauta Roubada.

Deduz-se que esses foram os capítulos exibidos da fase Kaiketsu, alternados com os 25 da fase Fuun. Após um tempo, devido a quantidade baixa de espisódios e a reprise exaustiva, a série saiu do ar.

A dublagem também teve seus detalhes. Falando inicialmente do Leão Laranja, nos primeiros 08 capítulos, o herói - que teve seu nome abreviado/ adaptado para Dan Shimarú/ Lion Man - , foi dublado pelo Nelson Machado. Seus amigos Shinobú (Lucia Helena Azevedo) e Sankíti (Hermes Baroli); e seus inimigos, Mântor do Diabo (Muíbo Cury e depois Borges de Barros) e Agdár (Gastão Malta), compunham o elenco principal de dublagem, sob a direção de Gilberto Baroli, na Álamo.


A partir do capítulo 09 até o final, quem assumiu o protagonista foi Leonardo Camillo. E um fato no mínimo curioso, é que a partir do episódio 17, um novo e aloprado aliado surgia no seriado: Nijíno Nanáiro, e este era dublado por ninguém menos que o próprio Nelson Machado. Só depois de muitos anos é que ficamos sabendo que em 1989, Machado se desligou da empresa e teve que ser substituído no personagem principal, mas algum tempo depois voltou a trabalhar na casa, e não fazia sentido em tirar o Camillo - que já vinha dublando frequentemente - e reescalá-lo para voltar a fazer o herói.

Quando o capítulo 01 do Leão Branco foi ao ar, novas surpresas. Embora a moça e o menino fossem outros atores, as mesmas vozes - Lucinha e Hermes - foram mantidas. Talvez para dar um clima de continuação. E também o Camillo reprisava seu papel. Nos vilões, tínhamos mudanças: Baroli fazia o Diabo Gózun, e Mauro de Almeida o Devil Nôba, numa interpretação muito bem colocada para um vilão, no mínimo curioso. Eis que a partir do espisódio 02, o herói muda novamente de voz, e com esta seguiu pelo menos até o último capítulo exibido (ou gravado por algum fã), o 22.


E esta terceira voz sempre foi uma incógnita. Sua interpretação também apareceu em outras séries, como algumas participações em Jiban e Goggle V, mas o nome do dublador era desconhecido. Procurei saber com muitos atores da época, mas simplesmente de ouvido, era muito difícil de se lembrar, principalmente após 20 anos. Inclusive, o Camillo nem sabia que havia sido substituído. Para ele, a série tinha acabado até onde ele fez. Mas eis que numa atitude quase que inesperada, Hermes Baroli soltou um palpite, e Lucia Helena confirmou que se lembrava dele dublando na época.

Trata-se de Alexandre Reinecke, um dos maiores nomes do teatro deste país, e que hoje é praticamente o Diretor de Peças mais conceituado do Brasil. Esteve - e está - a frente de inúmeros projetos, inclusive a peça atual de Fabio Assunção, Adultérios, é dirigida por ele. Abaixo, uma entrevista concedida para Heide Guimarães, onde podemos ouvir sua voz e comparar com a voz de outrora:


Muito obrigado àqueles que me ajudaram a desvendar um dos maiores mistérios da dublagem das séries japonesas: Hermes Baroli, que mesmo sendo criança na época ligou o timbre à pessoa, e Lucia Helena, por ajudar a confirmar a informação. Há quatro anos venho pesquisando sobre o dono desta voz, e finalmente consegui resolver mais esta questão.