quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Conheçam Ricardo Medrado

Finalmente, um dos rostos mais aguardados pelos fãs das séries japonesas dos anos 80 pode ser conhecido pelo grande público.

Após anos de pesquisas, conversas com diversos dubladores e catalogações de inúmeros trabalhos, é com muita satisfação que realizo esse meu sonho pessoal, e suponho que muita gente compartilha deste mesmo desejo há tempos.

O primeiro trabalho que conheci do Ricardo Medrado foi na dobradinha Jaspion/ Changeman. Essas dublagens são datadas do final de 1986, mas só foram veiculadas em VHS no ano seguinte, até o grande estouro na TV Manchete, em 1988.

É fato que a maioria lembra dele como a voz do Tsurugi Hiryuu/ Change Dragon e do Macgaren, já que são as séries que mais cativaram os telespectadores quando nem se sabia da existência da palavra "Otaku" neste lado do mundo. E curiosamente foram esses dois personagens que ele "herdou" de outros profissionais, que fizeram a primeira parte das dublagens: Paulo Ivo (Changeman) e Francisco Borges (Jaspion). Inúmeros outros papéis apareceram em séries seguintes como Flashman, Jiraiya, Jiban, Metalder, e depois de um certo hiato, um fixo no Kamen Rider RX, em 1995. Mas em nenhum deles a sua interpretação marcou tanto como nos pioneiros.


Pelos depoimentos que colhi, Medrado era uma pessoa excêntrica. Curtia Rock (como é possível perceber na imagem, empunhando um disco dos Beatles), andava de moto e vestia-se de forma condizente com aquilo que curtia. Há alguém que lembra dele usando uma camisa estampada com a foto do Che Guevara, por exemplo. Gostava de tudo que fosse relacionado a som, e depois que afastou-se da dublagem, na segunda metade dos anos 90, abriu uma pequena fábrica de caixas de som e amplificadores. E com ela ficou até o seu falecimento, onde não se sabe o dia e mês exatos, mas foi em 2002. Não consegui encontrar a Mônica, sua ex-esposa, e tampouco tenho informações se deixou ou não descendentes.


Era muito querido e respeitava demais o Coordenador Artístico da Álamo na época, Líbero Miguel. Percebe-se que era frequentemente escalado nas dublagens desta casa em específico, mesmo após o falecimento do Líbero. Tudo indica que havia um bom relacionamento entre a casa e ele, e consequentemente com os diretores e dubladores da época. Fora dali, só tenho lembranças de um capítulo de Pica Pau, feito na BKS, onde um vilão teve a sua voz.


Amigos que trabalharam com ele disseram que era uma boa pessoa, mas tinha um temperamento enérgico. As vezes, sua personalidade oscilava entre o calmo e o agitado. Através dos registros de vozes que temos disponíveis, é perceptível a qualidade de sua interpretação, aliado ao timbre ímpar, impressa nos personagens que tiveram sua voz. Quem não se recorda das atitudes heróicas do líder do Esquadrão Relâmpago? E das maldades premeditadas do filho de Satan Goss?


Ricardo Medrado foi esse dublador. Marcou a infância - e consequentemente a vida - de quem foi criança nos anos 80, mostrando o poder e a responsabilidade de encarnar um herói, e ao mesmo tempo o outro lado, a personificação do demônio. E não é justamente isso que é preciso para ser um bom ator? Saber "passear" pelas nuances da interpretação?


Fica então eternizado a minha singela homenagem a este grande profissional da dublagem paulista, e o meu muito obrigado pelo trabalho que ele desempenhou durante sua carreira. Inúmeros momentos de alegria e diversão me foram proporcionados pelos seus personagens. Onde quer que esteja, desejo que esteja bem, Ricardo.

Ouça a voz de Ricardo Medrado clicando abaixo: